Os três porquinhos - Trimoços

Blogue mantido, a muito custo, por António Simas, João Campos e João Miranda - Temos imperiais e tremoços sempre a sair!

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Nel Monteiro no seu melhor


O tema já foi ao de leve abordado neste blog, mas, possivelmente, não dispensámos a devida atenção à música de Nel Monteiro intitulada: Puta Vida, Merda Cagalhões.
Uma letra tocante. Um exercício de reflexão. Uma ode à luta do povo. Um discurso que os sindicalistas João Proença e Carvalho da Silva pagavam para ter proferido.
Enfim, mais palavras para quê? Aqui fica a letra completa, tirem as vossas conclusões.
Eu fiz o mesmo, fazendo minhas as palavras de Nel Monteiro: Puta vida merda cagalhões / Até parece que sou filho do azar / Pois até o Euro Milhões / Só merda me está a dar.

“Puta Vida Merda Cagalhões”


”Por não ter condições de vida
E ver sinais de mal a pior
Desculpem a linguagem
Mas não tenho outra melhor
Desculpem a linguagem
Mas não tenho outra melhor
É muito duro ser pobre
E mais duro é com certeza
Um pobre ser toda a vida
A lixeira da nobreza
Um pobre ser toda a vida
A lixeira da nobreza

Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim

Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar

A Expo 98
Tanta nota ali perdida
E tantos pobres pedintes
Sem terem nada na vida
E tantos pobres pedintes
Sem terem nada na vida
Não é defeito não ter
Nem para cagar, um penico
Defeito é ir tirar
Ao pobre para dar ao rico
Defeito é ir tirar
Ao pobre para dar ao rico

Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim

Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar

Estádios de futebol
Oferta de mão beijada
A quem já ganha milhões
E milhões sem ganhar nada
Ser pobre não é defeito
E ser rico também não
Defeito é ver um pobre
E não lhe dar um tostão
Defeito é ver um pobre
E não lhe dar um tostão

Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim

Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar

Aquela Casa da Música
Que não tem nada no Porto
Um insulto a quem não tem
Um minuto de conforto
Um insulto a quem não tem
Um minuto de conforto
Os vintes e dois mil milhões
Todos sabem para onde vão
Para a Ota e TGV
E não vai sobrar tostão
Para a Ota e TGV
E não vai sobrar tostão

Puta vida merda cagalhões
Porque será que tem que ser assim?
Os casebres e as mansões
Desigualdade sem ter fim

Puta vida merda cagalhões
Até parece que sou filho do azar
Pois até o Euro Milhões
Só merda me está a dar

Quando o homem se convencer que a modernização do mundo terá de começar por acabar com a pobreza, aí sim, teremos um mundo melhor.”

JM

Que fazer na retrete?

É incrível como a mais singela casa-de-banho, o mais exíguo WC, ou o mais chique e espaçoso quarto-de-banho se revelam um espaço propício à reflexão, convidativo ao exercício do raciocínio... Muitas vezes dão mesmo origem às mais elaboradas teses de doutoramento, aos mais rebuscados pensamentos sábios, às mais sonoras formas de flatulência. Quer-me cá parecer que mesmo Newton não teve o tal clic num pomar. O mais parecido com maçã era a matéria disforme e malcheirosa que o fitava do fundo do poço murado de loiça, matéria essa que em tempos havia sido chamada de «almoço»...
Os nomes são muitos, a realidade é só uma - a casa-de-banho é isto mesmo, uma mistura de sensações a cada dia que passa. Por vezes assustadora, outras aliviadora; ora sentimos alívio e até um certo prazer, ora respiramos fundo antes de entrar, com a face lívida e um medo terrível de perder o sentido do olfacto quando de lá sairmos.
Desta vez estava eu sentado no meu cantinho respondendo com alívio ao chamamento da Mãe-Natureza quando uma dúvida me assaltou de rompante: que fazer no nosso pequeno Palácio das Necessidades para além de bombardear a loiça? Com que nos ocupar sentados no nosso "obrigatório-acertar-no-alvo"? Em que pensar neste antro de fantasia que alia um misto de desconforto e alívio a um tédio infindável (sobretudo em dias de Cozido à Portuguesa ou Feijoada à Transmontana)?
Talvez o mais simplista dos leitores arrisque a contagem dos azulejos da divisão mais húmida da casa. Poderá porventura um outro leitor sugerir a leitura de um livro naquelas jornadas mais longas. Mas todas as hipóteses acabam por cansar. Tudo entedia. Tudo se torna gasto. Tudo enfastia.
E por entre gases, líquidos e sólidos o pensamento esvai-se cheio de nada e pleno de vazio.

JC

O bochecho

Quando tento recordar-me dos tempos da escola primária as imagens surgem na minha memória demasiado turvas, como se aqueles anos nunca se tivessem passado na minha vida ou como que querendo omitir que usei uma mochila do Mickey.
De passagem lembro-me somente de um colega que levava sempre para a escola, como se algo de sagrado se tratasse, uma enorme ranhoca verde no canto do nariz, ou de uma colega que comia borrachas e bebia corrector durante as aulas.
Mas eis que se faz luz na minha cabeça! Como pude esquecer-me de tal ritual durante tanto tempo?
De quinze em quinze dias batiam à porta da nossa sala de aula. Lá vinha ela, a contínua badocha (a quem carinhosamente chamávamos de “baleia azul”). Nas mãos um tabuleiro, no tabuleiro dezenas de copinhos de plástico com um líquido incolor. A minha face contorcia-se e em uníssono suspirávamos: ooooooohhhhhhhhh! Estava na hora do bochecho! Os copinhos eram divididos por todos. A professora acertava o seu relógio e à sua ordem despejávamos o líquido para a boca. Durante um minuto bochechávamos aquilo (hoje sei que é uma solução de fluoreto de sódio a 0,2%), sob o olhar atento da professora e da “baleia azul”. O som do bochechar vigoroso (bem como a ranhoca verde do meu colega) ainda hoje me corrói as paredes do crânio.
Não sei porquê, mas hoje tenho saudades do bochecho e estou a preparar uma carta para exigir que estendam esse procedimento ao ensino superior. Quero bochechar na faculdade!
Afinal eu era feliz e não sabia...

JM


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