Os três porquinhos - Trimoços

Blogue mantido, a muito custo, por António Simas, João Campos e João Miranda - Temos imperiais e tremoços sempre a sair!

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Senescência

E a (decerto) última imperial da noite escorrega, ligeira, goela abaixo...aquele líquido mais morto que vivo encontra aconchego nas paredes aveludadas de um estômago que pede proteínas animais e recebe álcool com saliva (toda aquela que tem a sorte de não morrer numa pedra fria de passeio)...

E as gargalhadas tomam um tom que denuncia fraco controlo sobre as reacções do corpo, corpo dormente, corpo cansado, corpo ciente da sua intoxicação (não foi ele que a pediu?)...

E o relógio, lento, quase parado, segue na sua rotina engraçada (então não é que os ponteiros, parecendo que não, se movem de vez em quando?) como que ansiando pelo próximo arroto arrancado a ferros, pelo próximo tropeção nos próprios passos incertos, pelo próximo despejo líquido na loiça de uma divisão minúscula...

E as estrelas, e as luzes, e as coisas todas (e que bonitas elas são) continuam lá...estão apenas desfocadas...como o discurso...

Mas eu sou um jovem que sabe o que significa senescência.
E synderesis.
E "dilema de segurança num sistema anárquico de estados".

E a noite prossegue, consumindo o seu tempo, lendo garrafas de cerveja vazias.

JC

A minha avó é uma vaca

Vida extraterrestre inteligente, verdade ou mito? Bom, não faço a mínima ideia…Mas sei que nenhum pacote de leite abre apenas por acção dos nossos dedos. Já há algum tempo que o JM se queixava, aliás, passava tardes a tentar abrir pacotes de leite com os dedos, já eu nunca me preocupei em demasia com isso, sempre que faço uso do leite as embalagens já estão abertas, mãe há só uma meus amigos! Mas decidi tirar esta dúvida que me começava a atormentar, peguei num pacote de uma marca 100% portuguesa e tentei. No 1º round fui claramente derrotado, estendi os dedos e usei muita força, comparável à do Tarzan Taborda e…nada! Manteve-se impávida e serena… De seguida avancei com a minha unha super desenvolvida de tocar guitarra, tentei serrar um dos cantos, resultado: parti a unha e já nem no metro me safo a tocar solos do André Sardet. O desespero tomou conta de mim, dentadas, facadas, bufinhas e até o meu olhar esbugalhado usei…a atitude correcta foi assumir a derrota, mas, nesse momento a minha mãe irrompe pela cozinha armada de uma tesoura, oiço finalmente um esgar de dor por parte do demónio de cartão, e com um golpe firme záz, rasga o invólucro. Desse momento guardo umas palavras sábias que a minha mãe proferiu:
-Sabes porque é que gosto mais de fiambre de peru que o de porco?
-Não, porquê mãezinha???
-Peruque sabe bem!!!

Aproveito para deixar uma pergunta em jeito de recado aos produtores de leite da marca Vigor: Se a avó da tia da mãe da vaca do anúncio já fazia leite de elevada qualidade porque razão não as metem a fabricar as embalagens pá? O quê? Ah…têm cascos…pois…

AS

Peixinho

Raimundo era um daqueles típicos falhados, 21 anos, emprego mau, tinha óculos, nariz grande, um penteado pior que o do Paulo Bento, mãos mais calejadas que as das gentes do campo e gostava de uma rapariga que não podia ter…Apesar de tudo isto julgava-se capaz de a conquistar, Raimundo olhava o espelho e via um rapaz inteligente, com piada e sensível (daqueles que gostam de dar longos passeios pela praia ao pôr do sol, não confundir com outro tipo de sensibilidade), ou seja, tudo aquilo que pensava ser necessário para conquistar qualquer mulher, até mesmo uma Dina Pedro.
Numa noite em que jogava ao peixinho com os seus amigos, pensou em deitar tudo cá para fora, tudo o que lhe ia no coração, assim na loucura e convida-a para sair, ela acede. No dia seguinte lá está ela com o seu sorriso radiante, Raimundo treme qual doente de Parkinson, a presença dela deixa-o hoje anormalmente ansioso, as piadas não saem e frases como ‘ está um dia bonito’, ‘o Benfica jogou bem ontem’ ou ‘acho que o Cláudio Ramos é gay…’ sucedem-se. Suores frios percorrem o seu frágil corpo à medida que o momento da verdade se aproxima, e eis que de repente, sem que nada o fizesse prever tem um laivo de loucura e diz-lhe como ela faz a diferença entre os seus dias medianos e os bons, como o sorriso dela o deixa sem jeito, como a presença dela o faz sentir bem consigo próprio, ela é tudo aquilo que ele quer, que ele merece e …. Não pode ter. Depois de alguns momentos de silêncio angustiante surge finalmente a resposta! É um não. Para Raimundo não é apenas mais um não, como poderá ele voltar a jogar ao peixinho sem pensar nela… Até ao fim do encontro reina o silêncio, ela não consegue deixar de pensar que perdeu ali em parte um amigo, ele debate-se com cólicas provocadas pela coca-cola que tinha bebido no cinema. Depois desse dia Raimundo voltou à sua realidade, hoje, aos 32 anos vive com a mãe, trabalha nos computadores e o seu jogo de cartas de eleição é agora o burro em pé. Dela já não tem noticias há alguns anos…

O mundo do amor pode ser doloroso, como Raimundo há muitos por ai, como nem todos podem ser como o Santana Lopes o peixinho há-de perder muitos fãs.

AS


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